quarta-feira, 31 de março de 2010

Arquivos

Dentre o que sou
Do que serei
E do que tentei ser
Redigi textos para tentar explicar-me
Para tentar definir-me
Para tentar dizer o que a vida é.

Dentre o que fui
O que nunca fui
E do que fingi ser
Redigi textos para disfarçar minha angústia
Para tentar mascarar sentimentos
Para tentar forjar felicidade.

Dentre o que escrevi
E o que não foi imposto
Redigi versos para serem lembrados pelo resto da vida
Para serem ditos por aqueles que dizem amar
Para encorajar-vos de benevolência.

Dentre estes inúmeros arquivos
Nada foi suficiente
Nada foi real, completamente.

Dentre as tristezas e as incertezas
Palavras foram impostas com tamanha delicadeza
Para encorajar-vos da minusculosidade da vida
Tão pequena quanto o coração deste falso poeta.

Dentre os anos que sucederam-se
Eu tentei encontrar a chave mestra
Tentei elaborar significados
Tentei fazer-me de um dicionário ambulante
Apenas tentei, em vão.

Dentre as inúmeras letras que foram consumidas pouco a pouco
Eu achei-vos entre os sentimentos profundos
Como quem procura uma agulha num palheiro
Como quem acha que tirou a sorte grande.

Dentre as tentativas
Encontrei os erros
Encontrei mais medo
Encontrei desejos
Encontrei significados pessoais
Encontrei a mim mesmo
Mas hoje vejo
A brincadeira de esconde-esconde ainda não terminou.


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