sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Gélido

Os sentimentos estão amontoados
Como partículas freneticamente em atrito
Nem o sol, nem o luar são capazes de esquentar
Tenebrosamente os pensamentos tendem a me gelar

O amanhã nascerá quente
Mas aqui dentro meu coração não pára de esfriar
Um, dois, três dias vão raiar
Mas o inverno tende a permanecer
Porque aqui dentro fará um frio incomensurável
Capaz de amedrontar
Até aqueles que tendam a escalar esta montanha gélida

O frio consome a vida
Se a vida perdeu sua fonte de calor
É preciso ebulir-se
É preciso decompor este amontoado de partículas
Onde encontrar uma nova fonte de energia?
O frio sempre tenderá a permanecer
Mesmo que o calor dos nossos corpos me aqueçam
Por pelo menos hoje.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

I feel it all

Eu sinto as dores de uma ferida que não fora aberta
E o pulsar de um coração que agora é só estilhaço
Sinto o piscar dos olhos tão espantados
Apenas sinto tudo ao meu redor

Eu sinto o adeus
E a chegada
O hoje
O amanhã
E o nada

Eu sinto tudo
É como se um flash de luz irradiasse seu dia
Rápido e trágico
Te faz sentir tudo

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Fogo

fire

A chama sempre tende a florescer
Cuida da intensidade
Para que um dia ela não o queime
É o fogo que sustenta a vida
O fogo de viver uma doce ilusão
Cuida para não sofreres
Porque o fogo chega sem se conter
Mas um dia pode ceder.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sombra

Sombra

Ontem andando pela solidão
E coberto pela imensidão
Desta andarilha vida
Corriqueira solidão
Encho-me de emoção
Vejo que nada foi em vão
Ainda consigo enxergar minha sombra sobre a terra esbranquiçada
Ainda consigo ver-me
Tão desgastado do tempo
Dentre as minúsculas partículas sólidas
É uma sombra que se mostra com vida
Mas que a noite tende a apagar
Precisamos de uma luz
Um farol, uma lâmpada, ou até mesmo uma chama
Precisamos de luminosidade
Para que possamos dar vida a nossa noite

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Reflexo

Reflexo

Onde está o meu reflexo?
Já não me vejo como antes
Amanhã serei apenas estilhaços ao lixo
Como um espelho que se quebrara

Desfoque

Dentre as fotografias na parede
A minha é a que mais dói
Não pelas lembranças
Não pelo passado
Mas pelo desfoque
Difícil de se enxergar
Me vejo como um indigente
Sem face, sem dente
Me vejo sem mente e sem mim

Dentre os sorrisos
Vejo a falsidade espantosa
Dentro de uma boca tão formosa
Vejo um alguém que engana
Só se engana

Em um pequeno pedaço de papel
Podemos ver até a alma
Basta apenas calma
Para enxergar o karma

Hoje este desfoque é resultado
Da fotografia velha que já se fora
Serão apenas lembranças fúnebres
E hoje são apenas memórias
Memórias póstumas

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Faz-de-conta

Todo mundo adora um faz-de-conta
As mentiras contadas a nós mesmos são como verdades universais
Todos tentam enfatizar seu mundinho irreal
Todos só querem viver anormal
Fugir do natural.

Todo mundo adora uma fantasia, todo dia
Ontem mentia para acalmar a euforia
De um faz-de-conta que acabou

De fato, a vida é um verdadeiro faz-de-conta
Onde só os sonhadores conseguem fugir do cotidiano
As mentiras são necessárias
Porque abrir os olhos para a realidade é um castigo
É um perigo.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Monocromático

Entre as cores do universo
O comum nos é direcionado
Vivemos numa variação
Tons acinzentados nos foram dado

Tudo é tão rápido
As cores do ontem desapareceram
E agora tentamos retomar a vida no preto e branco
Monocromático
Branco e preto demonstram a personalidade
Monocromático
O branco e o preto agora fazem parte da saudade
Agora tudo é resultado da mistura do ontem

Azul, Amarelo e Lilás
Nos dá este tom escurecido
Hoje sou apenas a mistura destes três
Somos a mistura deste três tons que pareciam felizes
Monocromático e estático
Assim estamos
Numa escuridão estupenda que tomou conta
Numa imensidão tão amena
Vivemos um faz de conta

O que parecia alegria
Combinou-se para a funebridade
Monocromáticos estamos agora
Nada do que parecia foi verdadeiro
As cores me enganaram mais uma vez
E agora vou aprender a viver
Nesta monocromia
Nesta falta de luz
Nesta falta de energia

Preciso mais de mim.

Há muito tempo tenho vindo colocando minhas expectativas, minhas emoções, minhas paixões, meu amor, meus medos, meus sonhos e todos os outros meus sentimentos em um alguém que nunca ficou na minha vida de fato; Em um alguém que apareceu no meu hoje e foi embora no amanhã tão incerto; Num alguém que parecia ter mais vida do que eu, mas que era tão incerto quanto a mim; Num ser humano que parecia poder ser feliz e me dar felicidade.
Tenho colocado e vivido em função dos outros, achando que os outros trariam para mim a paz que eu sempre almejei, mas esse "outro" sempre ia embora e me deixava à mercê das minhas frustrações que pareciam não ter fim, que pareciam me destruir por dentro (e foram, pouco a pouco) como um tumor maligno que acabava com meu 'eu' interior. Tenho vivido em função dos outros, tentando sugar tudo que os outros tinham e o que eu sempre invejei: Paz, Felicidade, Benevolência, Amor e todos os outros sentimentos bons que qualquer um pudesse querer para si próprio. Tenho tentado resgatar nem que seja uma parcela insignificante destes sentimentos dos outros, e achando que sempre os consegui, fui vivendo passo a passo cada etapa da minha vida de merda.
Nunca imaginei que um dia pudesse perceber o quanto idiota eu fui durante todo este tempo. Não sei explicar a causa, mas sei que eu sempre quis sugar o que os outros tem de bom para dar, sempre achei que meu depósito de altruísmo estivesse completamente lotado, e que eu pudesse sair distribuindo-o por aí. Pequeno jovem tolo, eu sou. Tão pequeno que se quer fui capaz de crescer e obter meus próprios sentimentos realísticos.
Vivi e vivo nessa farsa de sentimentos bons. Finjo a todo momento a felicidade que já fica mais do que perceptível o quão falsa és; Finjo a todo o momento estar antiquado ao meio; Finjo desde quando me conheço como gente este amor que saio distribuindo por aí, como se fosse um alguém doce e cheio de sentimentos, porém não soube fingir contigo tudo isso, fui transparente como nunca tinha sido com outro alguém, mas você foi apenas uma peça pertencente aos "outros", que entrou na minha vida e contribuiu ainda mais para a minha frustração sem tamanho.
Hoje me dou conta de que o que eu realmente preciso é de mim. Eu preciso da minha personalidade falsa, dos meus pensamentos inconstantes e desse meu sabor insípido (contraditório, não?). Eu preciso me doar mais um pouco para mim e deixar de viver em função dos outros, porque os outros são como pronomes indefinidos. Nunca se sabe quem será o próximo alguém e quem foi o ninguém que fez parte de mim.
Eu preciso me encontrar e fazer um pedido de namoro a mim mesmo, preciso dizer o quanto eu o amo. Preciso conseguir enxergar meu puro reflexo diante do espelho e perceber quem realmente sou.
Não sei, não posso, não consigo.
O pessimismo toma conta de mim, porque já sou deste futuro incerto. Sou apenas fruto da árvore podre que me gerou. Sou tão podre quanto ela.
Estou jogado neste mundo, e tenho apenas que aprender e aceitar a viver nesta podridão.
Sou isso.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Ruptura

O sonho se tornou realidade
Aquele rígido muro de concreto veio ao chão
Estava por cima, e hoje não estou não.
Uma bomba recheada de insucesso atingiu-me
Agora serão apenas dores do ontem que ainda não acabou
Hoje será apenas um complemento
Será apenas entulho do muro que eu construí para viver em paz

Reconheço que ela nunca esteve presente
Porque nem a mim mesmo tenho me dado
Nem a mim mesmo tenho me contemplado
Hoje dói essa ruptura
Eficaz e capaz de me fazer derramar lágrimas

Restam-me os entulhos
Como restaram-me num outro momento da vida
Hoje me restam os resquícios daquilo que ficou no ontem
E serão apenas resquícios que frustram
Durante toda a minha vida

Jamais será reconstruído um outro muro
Jamais serão erguidas fronteiras
Que me separem da minha realidade
Que me deixem do lado do paraíso
Hoje eu reconheço
Que o paraíso nunca existiu
Tudo foi uma doce ilusão
E que agora, neste instante
A ruptura tomou conta.

Um fim de semana quase perfeito.

Resolvi tirar férias da minha vidinha. Arrumei minhas malas e fui pra casa de Felipe, tirar um descanso. No começo foram flores e mais flores, festas e mais festas... Bebi oceanos, mas nada conseguiu me desvincular do meu mundo aqui, tão pesado e tão doloroso. Pensei a todo o momento na pessoa em que eu amo, nos problemas que a vida traz consigo e nos dias que faltavam para eu poder deitar na minha cama e ficar horas e mais horas pensando na vida.
Cheguei ontem, e aproveitei para fazer isso. Um tanto pra baixo, fui dormir bem cedo e fiquei pensando na vida... Peguei no sono, e só resolvi acordar agora às 13:16. Ainda me sinto num vazio sem tamanho, em cima de um muro prestes a desabar, me sinto...
Eu espero que este pressentimento seja apenas uma doce ilusão.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Saying Good Bye

Tudo o que devemos fazer quando chega o fim
E o que devemos dizer quando um ciclo se fecha
É necessário dizer Adeus
A vida é feita de começos
E fins

No começo as luzes brilham, tudo é novo
As doces palavras de principiante te comovem
E a insípida vida parece ganhar sabor
Parece ganhar cor
As tonalidades acinzentadas vão-se colorindo
Quando as luzes brilham
As luzes de um começo.

As luzes brilham como corpos celestes
Alimentada por um gerador
Que um dia esgotará sua fonte de energia
As luzes tendem a brilhar
Enquanto você alimenta o gerador
E quando você menos espera
O tempo de vida útil esvair-se
E restam-nos apenas as velas
Não as coloridas
Apenas aquelas de tonalidade esbranquiçada
É necessário velas para que não fiquemos no escuro

Em algum momento você precisará dizer
Você precisará encontrar forças
Para então dizer: Adeus

Meus olhos não conseguem ver

Meus olhos já não conseguem ver mais o amanhã
O amanhã
que guarda mistérios da felicidade
A felicidade
que guarda mistérios da vida
A vida
que guarda mistérios de um alguém
Um alguém
que guarda segredos do mundo
Um mundo
que gira tão rápido e sem compaixão
Compaixão
que não existe mais nos nossos corações
Coração
que já não bate como no passado
Um passado
que traz infermidade e tristeza
A tristeza
que miniminiza a esperança de viver
Querer viver
um desejo não tão valorizado

Meus olhos já não conseguem mais ver o ontem
O ontem
que passou tão rápido, agora são lembranças
Lembranças
que faz sofrer por não terem sido desfrutadas
Desfrutar
um verbo que já não faz sentido para os esquecidos
Os esquecidos
aqueles que vivem na sombra do dia-a-dia
O dia-a-dia
cotidiado pacato de uma vida amena
Amenidade
o muito que nos foi herdado
Herança
apenas continuidade do modelo de vida infeliz
Infelicidade
pequenos momentos que valem por todos os outros
Os outros
que já não são ninguém, nem nada

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

São as águas de março fechando meu verão.

Chegaram mais cedo para acabar meu sol
Chegaram hoje e levaram meu brilho
Meu bronze, levaram.

As águas de março chegaram para purificar
E limpar o que há de ruim em mim
Chegaram assim,
Com poucas e certas palavras
Chegaram para destruir meu telhado
São as águas de março.

Elas chegam premeditadas
E levam tudo
Amanhã restarão apenas as folhas caídas.
São as águas de março
É o meu outono antecipado
Que me foi planejado
Agora serão apenas lembranças
Do sol que fazia ontem.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Buraco

Um buraco foi aberto em mim
E trouxe consigo paz, amor e esperança
Veio com muita ânsia e intensidade
Trouxe paz, amor e fraternidade
Um buraco cheio de benevolência
Onde, com decência, eu preenchi de sentimentos benéficos.

A bondade do buraco que está em mim é tamanha
A vontade de querer mais e mais é imensa
E eu vou cavando mais e mais
Porque ele me traz sentimentos dos Deuses
Porque a verdadeira felicidade está no fundo desta mina
A verdadeira felicidade e a chave do sucesso

Agora serão apenas sonhos incumprivéis
Nada do que existe alí é real
É tão profundo
E tão obscuro que a miragem se faz presente perante os olhos
Estamos numa escassez sem tamanho
Onde vemos coisas sem razão
E desenhamos desilusão

No meu buraco existe isso e aquilo
No meu feche de escuridão
Existe paz, amor e perdão
Na minha abertura do paraíso
Existe apenas dor amarga
E sentimentos em inconstância.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Momentos

Um alguém hoje me disse que só tirava fotos com amigos, para registrar os momentos, e que não gostava de tirar fotos sozinho. Apartir daí percebo que não há momentos em minha vida, tudo é apenas flash's incaputuráveis e não armazenáveis. Não há momentos.

E o vento vai levando tudo embora...

Querida brisa insípida e traidora
Que leva consigo os sonhos
Que leva consigo a vida
Que leva consigo o que me trouxe.

Querida brisa tão forte
Que invadem, derruba meu suporte
Que me derruba sem remorso
A brisa da maldade chega com vontade
E cheia de impiedade
Age com fervor

O vento chegou no meu castelo
A desgraça natural está desmoronando minhas estruturas
O vento leva tudo embora
A vida
Os amores
As amizades
A felicidade
O vento leva até a vontade de ser feliz

O vento vai levando tudo embora
A mim, a você e ao amor que ficou pra trás
Hoje sãor resquícios de um passado voraz
Que sem eficácia tornou-se ameno

O vento é um amigo que não podemos confiar
Nos traz felicidade
E mais tarde vem buscar
O vento leva tudo embora
Essa é uma verdade universal
O 'pra sempre' sempre acaba.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ilusão.

O mundo não passa de mera realidade oculta, na qual não observamos, devido as façanhas que nós, seres humanos, criamos para distrair nosso cotidiano. Tudo não passa de simples ilusão. Os amores ideais não existem, são apenas uma pequena gama de sentimentos passageiros. Alguns destes sentimentos duram, e duram, e talvez virem aquele do qual nos orgulhamos em pronunciar: A-M-O-R; Outros duram tão pouco tempo que recebem o nome de tesão, paixão ou como quiser chamar. Constumamos idealizar e nos entregar aos nossos sonhos, vivendo num mundo irreal e ilusório, onde construímos, com o poder das nossas grandiosas mentes, um castelo e nos nomeamos reis eternos. Vivemos neste estado da alma durante anos, num sonho que parece não ter fim; Vivemos a dormir durante anos, e parecemos não acordar quando o raiar do dia invade nosso quarto e ilumina nossa face. Continuamos a sonhar, como crianças que idealizam bens materiais.
O mundo passa e as coisas passam... E então nos damos conta de que tudo fora ilusão, e que agora serão apenas lembranças do dia em que estivermos a dormir como personagem de conto de fadas, esperando um suposto príncipe nos acordar. Este suposto príncipe não é real, não é palpável. Este suposto príncipe chama-se maturidade. A maturidade nos chega tão depressa que nos faz mudar completamente, esse é o melhor dos melhores estados da alma que podemos nos encontrar. Nos damos conta de que aquilo que aprendemos nos primórdios da nossa vida não são de fato reais, são apenas histórias criadas por pessoas inteligentes, mas não tão maduras.
O mundo passa e as pessoas passam. Pelo menos no meu, nenhuma continuou seguindo a mesma estrada que eu. Todas se foram como o dia que raiou hoje pela manhã, todas se foram como a noite que tenderá a acabar enquanto meus olhos estiverem fechados. As pessoas chegam tão depressa e vão-se tão depressa como numa estação de metrô, nos deixando a mercê dos sentimentos que desgastam a alma: SAUDADE. As pessoas chegam tão depressa e não se mostram completamente, deixam transparecer os seus espinhos e nos ferem sem querer, basta aproximarmo-nos, e deste modo elas se vão, depois que retiramos estes espinhos de dentro de nós.
O mundo passa e os amigos passam. De uma maneira tão rápida que nem temos a oportunidade de nos despedirmos. Alguns se vão por uma válvula de escape social que nos separam, outros por motivos óbvios e egoístas que se deixam levar pelo capitalismo deste mundo competitivo e hipócrita, outros ainda cometem erros gravíssimos que os levam de carona para bem longe de nós.
O mundo gira, e nós ficamos. De uma maneira tão precisa e rápida. São apenas vinte e quatro horas durante um dia para a subtração de preciosos instantes vitais. Algumas vezes queremos que estes instantes peguem carona, e prossigam tão rápido quanto a velocidade da luz, outras vezes queremos vivenciar cada segundo que pedimos aos céus que o tempo pare, para que possamos apreciar com todo o bom gosto e delicadeza o prazer de viver.
O mundo é tão pequeno, mas nosso histórico de vida tão grande. A grandiosidade não está em demarcação territorial, mas sim em demarcação áurea, onde através dela, podemos solicitar as medidas pertinentes para saber-mos sobre nós. Nossa alma é tão grande quanto o território físico, ou talvez maior. Nela cabem todas as lembranças e as guerras que ocorrem constantemente dentro de nós. Muitas vezes pensamos em acabar com este nosso mundo interior, mas percebemos que o fim das coisas não são a solução para os nossos problemas, e sim mais um problema gerado indiretamente para quem realmente é, ou foi, nosso problema.
O mundo é a vida, e não o conhecê-mos por completo. Não dispomos de recursos para podermos alcançar e explorar todos os pontos sem que sofrimento e desgraça andem juntos.
Bem-vindo, este é o meu mundo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Identidade

Às vezes eu reflito comigo mesmo e com meus fantasmas que assombram minhas noites em claro, esperando por um milagre que possa acontecer, uma luz que possa invadir minha vida e me fazer um alguém puro: sem máscaras, sem dúvidas, sem problemas, aflições e preocupações. Eu penso o quão sujo és o ser humano, quando entrega-se aos prazeres momentâneos que os deixam felizes por uma gama de míseros segundinhos que não respondem por toda a sua vida. Eu vejo que todos nós somos vítimas deste sistema ideológico formador de opinião e de comportamento.
Nossa identidade já não existe, com tanta tecnologia, informação e diversão. Tendemos a transmutar a cada momento de nossa diversão, e cedermos aos prazeres momentâneos, os deixando consumir nossa alma (que já fora mais inteligente e individualista).
Mas não, não é isso que quero dizer.
Estou falando daqueles responsáveis pela nossa mudança degradante, aquela que vem acontecendo "step by step" e não nos damos conta da metamorfose ambulante em que nos transformamos. Sim, estou falando dos amigos. Queridos amigos de tempos amargos em que tomava café e fumava cigarros (malditos cigarros); Queridos amigos nos quais eu poderia fechar os olhos e os ver indo embora pouco a pouco, sem hesitar minha ingloriosa presença insignificante; Queridos amigos de tempos póstumos que jamais ressuscitarei, não mais; Queridos amigos que usavam pregos para castigar-me enquanto eu os levava rosa todos os dias (daquelas mais belas e finas).
Apenas queridos... Apenas lembranças que acabam de ser engolidas nesse último gole de café amargo que dou, de fato.
Em tempos imemoriais, mudei minha mente, meu comportamento e meus ideais para atender ao chamado de uma casta insignificante de pessoas que nunca fizeram o mínimo de esforço para me apoiar nos meus entraves da alma; Mudei a minha vida, minha personalidade e a mim mesmo, e agora nada posso resgatar. A doença transmutável da alma me pegou de jeito, e agora sou este insípido cálice de água impura que vaga pelas ruas de Salvador.
As lembranças podem ser apagadas, mas as marcas dela jamais se apagarão.