Aproximadamente seis mil quinhentos e sessenta dias atrás a flor brotava no jardim, uma flor murcha, disforme, caricaturada- a flor que viria talvez a erguer-se diante dos cravos peçonhentos e antiestéticos- era uma rosa qualquer, encontrada em todo canto da cidade, era comum, era anormal a visão dos telespectadores. Era nada, murcha e com farta cor que esbanjava alegria, era nada, era só uma qualquer. Sua função real fugira dos preceitos básicos que a "colônia" seguia, não mediava os gametas masculinos e femeninos, não fizera polinização. Coitada da flor, não tinha função ao decorrer da sua vida (era um mero enfeite de jardim, era irreal).
Cresceu, ergueu-se e continuou a mesma imatura e enfezada flor de sempre, porém, agora ela realmente sabia o apreço que a vida lhe dera, não tivera nada a escolher, nada a projetar futuramente para suas pétalas que secariam mais à frente, pétalas desgastadas com o tempo, com a vida que a mesma tivera durante os seis mil quinhentos e sessenta dias, velha.
E agora a flor tem de escolher seu futuro próximo, escolher traçar uma meta, que não dispõe de muitos recursos para fazer-se um ramo, mas precisa seguir uma estrada, a direita? ou a esquerda? uma estrada que talvez possa não ter fim, um inferno vivencial, sentimental. Suas pétalas caem de tão seca, o líquido que jorra dela não é a mera seiva bruta com minerias para promovê-la, é o líquido salgado, que saí inspídamente e a consome de forma desordenada e fazem as pétalas secarem a ponto de caírem, assim promovendo sua morte vagarosamente. Flor, rosa, flor. Tens cuidado e pensa-te: O mundo não pára, para você recuperar a seiva bruta que consumira. Escolhes um caminho e siga tua meta, escolhes um caminho e viva... viva de uma forma atormentada, porque o campo que quereres viver já não pode. Apenas viva!
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